1.Introdução: O Dilema da Sucata de Cobre de Baixo Grau — “Sem Destino”
Na última década, os fluxos globais de sucata de cobre passaram por duas mudanças estruturais. A primeira começou com as restrições da China às importações de “resíduos estrangeiros”, que desviaram grandes volumes de sucata de cobre europeia e americana para países do Sudeste Asiático para triagem e processamento preliminar antes de serem reexportados para a China. Malásia, Vietnã e Tailândia já foram centros de transbordo cruciais nessa cadeia de suprimentos.
Nos últimos anos, porém, à medida que as nações do Sudeste Asiático apertaram os padrões de importação e reforçaram a fiscalização ambiental, esse modelo comercial — caracterizado pelo processamento leve e reexportação — entrou em uma fase de “semi‐paralisação”. Enquanto isso, os países ocidentais, motivados pela importância estratégica dos recursos de cobre e pelas metas de economia circular, têm retido cada vez mais sucata de cobre de alta qualidade para uso doméstico. Isso reduziu ainda mais o volume de materiais de cobre recicláveis em circulação nos mercados internacionais.
Como resultado, grandes quantidades de sucata de cobre de baixo e médio grau estão agora efetivamente presas: impossibilitadas de entrar na China, o maior consumidor mundial de cobre, e cada vez mais bloqueadas pelas restrições de importação do Sudeste Asiático — ficando “sem destino”.
Nesse contexto, traders e empresas de processamento buscam ativamente novos centros de transbordo e tratamento preliminar para absorver o material de baixo grau deslocado. Entre as regiões potenciais — como Índia, Oriente Médio e América do Sul — o Oriente Médio surge como um candidato promissor, graças ao seu regime comercial aberto, vantagens de custo e posicionamento logístico estratégico.
2.O Fim de uma Era: O Declínio do Sudeste Asiático como Centro de Transbordo de Sucata de Cobre de Baixo Grau
Desde a proibição de importação de resíduos sólidos pela China, o Sudeste Asiático tornou‐se uma importante região de transbordo global de sucata de cobre. Países como Malásia e Tailândia absorveram volumes significativos de sucata de cobre de baixo grau da Europa e dos Estados Unidos, realizando processos básicos como triagem, corte e reembalagem antes da reexportação para a China. No entanto, essa era do Sudeste Asiático como “portal” mundial da sucata de cobre está chegando ao fim.

Em 2021, a Malásia implementou novas normas SIRIM, elevando abruptamente o limite de importação — exigindo um teor de cobre de pelo menos 94,75%。 Grandes quantidades de sucata de cobre de baixo grau foram rejeitadas ou retidas nos portos. Como resultado, muitas empresas de reciclagem e processamento de longa data realocaram-se, com uma parcela substancial mudando para a Tailândia, onde as políticas eram então mais flexíveis.
No entanto, desde 2023, a Tailândia também apertou seus sistemas de importação e licenciamento de sucata de metal, ao mesmo tempo que intensificou a repressão ao contrabando e declarações falsas. Em essência, a Tailândia está se tornando “a próxima Malásia”. Com fiscalização abrangente, tempos de desalfandegamento prolongados e custos de conformidade mais elevados, o papel do Sudeste Asiático como centro de reexportação de sucata de cobre de baixa qualidade está rapidamente desaparecendo. Os comerciantes agora são forçados a procurar novos destinos — e o Oriente Médio entrou em seu radar como o próximo centro de processamento potencial.
3. Potencial do Oriente Médio: Flexibilidade Política + Vantagem de Custo + Localização Estratégica
À medida que os comerciantes globais buscam novas bases de processamento, a combinação única de vantagens do Oriente Médio o posicionou como um ponto emergente para reexportação e processamento leve de sucata de cobre. Seu apelo decorre de três dimensões principais: políticas indulgentes, estruturas de custos competitivas e posicionamento geográfico e comercial estratégico.
(1) Flexibilidade Política
O ambiente regulatório relativamente relaxado do Oriente Médio é atualmente seu maior atrativo. Em nítido contraste com as crescentes barreiras ambientais do Sudeste Asiático, a maioria dos países do Oriente Médio — particularmente Emirados Árabes Unidos, Omã e Arábia Saudita — ainda não introduziram restrições rigorosas às importações de sucata de cobre.
Os governos regionais priorizam a atração de investimento estrangeiro e a diversificação industrial em vez de restrições ambientais. Zonas francas como a Zona Franca de Jebel Ali (JAFZA) e as Zonas Econômicas de Khalifa em Abu Dhabi (KEZAD) nos Emirados Árabes Unidos, e a Zona Franca de Sohar em Omã, oferecem incentivos incluindo tarifas zero e importações sem necessidade de licença. Para comerciantes que buscam desalfandegamento eficiente e burocracia mínima, essa abertura regulatória oferece uma vantagem incomparável.
(2) Competitividade de Custos
O Oriente Médio também possui uma vantagem significativa de custos, particularmente em energia. De acordo com dados da Agência Internacional de Energia (AIE) e reguladores regionais:

Essa lacuna substancial de custos de energia se traduz em forte competitividade de preços. Combinada com infraestrutura logística moderna e baixos custos de armazenagem, os portos do Oriente Médio podem movimentar materiais com eficiência. Embora os custos locais de mão de obra sejam mais altos, as zonas industriais dependem fortemente de trabalhadores migrantes da Índia, Paquistão e Bangladesh, mantendo os gastos com a mão de obra para o processamento leve aproximadamente no mesmo nível que o Sudeste Asiático.
(3) Localização Estratégica e Infraestrutura
Geograficamente, o Oriente Médio está situado na encruzilhada da Ásia, Europa e África — conectando-se a mercados europeus para o oeste e à China, Índia e Sudeste Asiático para o leste. Suas portos de águas profundas de classe mundial — Jebel Ali, Sohar e Dammam, entre outros — fornecem vantagens naturais para o reexporte e o comércio de trânsito.
Esses portos permitem um ciclo completo de importação–processamento–reexportação, apoiando operações desde armazenamento e triagem até reembalagem e até mesmo fundição preliminar — reforçando o potencial da região como um futuro hub de processamento de sucata de cobre.
4.Evidências Emergentes: Uma Função “Coleta e Distribuição” Nascente
Embora o setor de processamento de sucata de cobre do Oriente Médio ainda esteja em sua fase inicial, vários desenvolvimentos já sugerem sua gradual emergência como um novo nó para o trânsito global e o processamento leve de sucata de cobre.
(1) Emirados Árabes Unidos: Tornando-se o Núcleo Comercial da Região
Em Dubai e Sharjah, um crescente agrupamento de empresas especializadas em triagem, embalagem e reexportação de sucata de cobre. Muitas são apoiadas por investidores da Índia, Paquistão e China, aproveitando a eficiente liberação aduaneira e os benefícios da zona franca do Porto de Jebel Ali para processar material proveniente da Europa, EUA e África antes de reexportá-lo para a Ásia.
Algumas empresas já instalaram linhas de processamento preliminar para melhorar a pureza do cobre, atendendo aos padrões de importação da China ou da Índia. Embora ainda modesta em escala, essa tendência sinaliza que os Emirados Árabes Unidos estão assumindo um papel intermediário no comércio global de sucata de cobre.
Notavelmente, desde 2024, os Emirados Árabes Unidos impuseram uma tarifa de exportação de 400 dirhams (≈ RMB 775) por tonelada sobre a sucata de cobre. Embora as exportações tenham caído brevemente, a política pode, a longo prazo, incentivar um processamento com maior valor agregado, gradualmente transformando os Emirados Árabes Unidos de um simples centro de triagem em um centro de manufatura leve.

(2) Omã: Construindo um Agrupamento Industrial Baseado em Políticas
Omã tem promovido ativamente o reciclagem de metais em seu “Agrupamento de Metais” no Porto de Sohar, estabelecido nos últimos anos. O agrupamento abriga projetos de reciclagem de cobre, alumínio e aço e atraiu investidores da Índia, Turquia e Europa. Algumas empresas começaram a realizar triagem leve e reembalagem localmente.
Além disso, a "Estratégia de Desenvolvimento Industrial 2040" de Omã identifica explicitamente a capacidade de reciclagem de metais e reexportação como pilares da diversificação industrial — fornecendo uma base política sólida para a importação e processamento legais de sucata de cobre.
(3) Arábia Saudita: Rumo a uma Economia Circular Doméstica
Embora as importações de sucata de cobre pela Arábia Saudita permaneçam limitadas, sua Estratégia Nacional de Economia Circular enfatiza o desenvolvimento de sistemas de reciclagem de metais e o estabelecimento de parques industriais para produção secundária de metais, com participação de investimento estrangeiro. À medida que a infraestrutura e a coordenação inter-regional melhoram, a Arábia Saudita pode se tornar um hub chave de redistribuição dentro da rede interna de sucata de cobre do Oriente Médio.
No geral, embora o Oriente Médio careça de capacidade de fundição ou refino em larga escala, suas capacidades de trânsito, armazenagem e processamento preliminar estão se desenvolvendo rapidamente. Das zonas francas ativas e eficiência logística portuária às políticas industriais nacionais, todos esses sinais apontam em uma direção: o Oriente Médio está sendo selecionado pelo comércio global de sucata de cobre como o próximo potencial hub de processamento e distribuição, seguindo o modelo do Sudeste Asiático.
5. Riscos e Incertezas
Apesar de seu potencial, o caminho do Oriente Médio para se tornar um hub global de sucata de cobre enfrenta múltiplas incertezas — desde lacunas regulatórias até desafios geopolíticos.
(1) Estruturas Políticas e Regulatórias Incompletas
Assim como o Sudeste Asiático em estágio inicial, a maioria das nações do Oriente Médio ainda carece de supervisão ambiental sistemática e critérios de importação padronizados para sucata de cobre. Além dos Emirados Árabes Unidos e Omã, poucos têm regras claras sobre qualidade do cobre, níveis de contaminação ou rastreabilidade.
Embora esse vácuo político ofereça vantagens comerciais de curto prazo, ele carrega riscos de longo prazo de reversões políticas. Se parceiros internacionais ou grandes importadores exigirem padrões ambientais mais elevados, a região poderá enfrentar o mesmo ciclo de aperto que o Sudeste Asiático experimentou.
(2) Riscos Ambientais e de Reputação
Os governos do Oriente Médio estão promovendo narrativas de "indústria verde" e economia circular. No entanto, má gestão ambiental ou comércio ilícito nos estágios iniciais poderiam facilmente manchar esses esforços. Para economias preocupadas com a imagem, como os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita, que buscam se posicionar como destinos de investimento sustentável, ser rotuladas como "centro de processamento de resíduos de baixo padrão" seria prejudicial para a reputação.
Portanto, para sustentar o crescimento, a região deve estabelecer estruturas de processamento rastreáveis, conformes e de baixa emissão — mesmo ao custo do aumento das despesas operacionais.
(3) Riscos geopolíticos e logísticos
O Oriente Médio permanece geopoliticamente sensível.Questões como a segurança marítima no Mar Vermelho, as tensões entre Irã e os países do Golfo e os conflitos regionais podem perturbar diretamente as rotas de transporte de sucata de cobre.
Além disso, as redes logísticas internas da região permanecem fragmentadas — embora seus portos sejam de classe mundial, a interconectividade é limitada e o trânsito transfronteiriço frequentemente depende de um punhado de corredores designados.Esses fatores representam riscos sistêmicos em meio a interrupções na cadeia de suprimentos global.
6.Conclusão: O Oriente Médio em um "Momento de Janela de Política"
A evolução dos fluxos globais de sucata de cobre sempre refletiu mudanças nas políticas e estruturas de custos.A proibição de importação da China uma vez impulsionou a ascensão do Sudeste Asiático; agora, o aperto no Sudeste Asiático está abrindo uma nova janela para o Oriente Médio.
Com sistemas comerciais abertos, custos de energia baixos e uma posição geográfica estratégica, o Oriente Médio tem os pré‐requisitos fundamentais para se tornar o novo centro global de sucata de cobre de baixo grau.
No entanto, o potencial não se traduz automaticamente em realidade.Para realmente capturar essa oportunidade de migração industrial, as economias do Oriente Médio devem equilibrar velocidade com estrutura — mantendo a abertura e a eficiência comercial enquanto estabelecem estruturas básicas de conformidade ambiental e rastreabilidade para evitar repetir o ciclo de "auge seguido de restrição" do Sudeste Asiático.
Em última análise, os fluxos globais de sucata de cobre representam uma interação contínua de política, custo e geopolítica.Hoje, o Oriente Médio está onde o Sudeste Asiático estava uma década atrás: oportunidades abundantes, mas uma janela estreita.Se a região puder institucionalizar suas vantagens iniciais e construir um ecossistema industrial integrado, poderá muito bem se tornar um nó pivotal na próxima fase do panorama global do cobre reciclado.



