Declaração Conjunta entre a República Popular da China e a República Federativa do Brasil sobre o Fortalecimento da Comunidade de Futuro Compartilhado China-Brasil para um Mundo Mais Justo e um Planeta Mais Sustentável, e a Defesa Conjunta do Multilateralismo
A convite do Presidente Xi Jinping, da República Popular da China, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da República Federativa do Brasil, visitou a China de 10 a 14 de maio de 2025 para participar da 4ª Reunião Ministerial do Fórum China-CELAC e realizar uma visita de Estado à China.
1. Ambas as partes concordaram em fortalecer a Comunidade de Futuro Compartilhado China-Brasil para um mundo mais justo e um planeta mais sustentável, enfatizando que, desde a visita de Estado do Presidente Xi Jinping ao Brasil em novembro de 2024, os dois países alcançaram progressos tangíveis e resultados mutuamente benéficos na promoção do crescimento inclusivo, da inovação tecnológica e do desenvolvimento sustentável. Ambas as partes destacaram a natureza abrangente de suas relações e concordaram em expandir e aprofundar continuamente a cooperação pragmática, dinamizar ainda mais os intercâmbios culturais, aumentar a compreensão mútua entre os povos dos dois países, fortalecer a cooperação no âmbito das organizações internacionais e dos mecanismos multilaterais, e continuar a demonstrar a influência global, o valor estratégico e a natureza de longo prazo de suas relações.
2. Ambas as partes expressaram grande satisfação com os progressos alcançados desde o alinhamento da Iniciativa do Cinturão e Rota com as principais estratégias de desenvolvimento do Brasil, incluindo o "Programa de Aceleração do Crescimento", a "Nova Indústria para o Brasil", o "Programa de Transição Ecológica" e o "Plano de Rota de Integração Sul-Americana". Elas saudaram a adoção da lista de projetos de cooperação para a primeira fase pelos grupos de trabalho relevantes, abrangendo áreas como cooperação financeira, saúde, infraestrutura (estradas, ferrovias, portos), inteligência artificial, ciência, tecnologia, informação, capacitação de recursos humanos, meio ambiente, energia renovável, transição ecológica, construção naval e muito mais. Muitos dos resultados da cooperação nessas áreas estão refletidos nos acordos alcançados durante esta visita. Ambas as partes reafirmaram seu compromisso de continuar a avançar firmemente no alinhamento de suas estratégias de desenvolvimento, promover conjuntamente a modernização da China e do Brasil, otimizar a cooperação financeira e facilitar a conectividade regional e o desenvolvimento sustentável. Ambas as partes continuarão a promover a cooperação pragmática em vários domínios.
3. Os chefes de Estado dos dois países apelaram à atenção para os desafios enfrentados pelos países em desenvolvimento na atual situação internacional, defenderam o fortalecimento da cooperação entre os países do Sul Global e consideraram a relação China-Brasil um modelo de colaboração entre os principais países em desenvolvimento.
4. Ambas as partes reafirmaram a importância que atribuem ao papel fundamental desempenhado pelo Comitê de Coordenação e Cooperação de Alto Nível China-Brasil na promoção do desenvolvimento das relações bilaterais e na realização de projetos conjuntos em áreas como assuntos políticos e diplomáticos, economia e comércio, ciência e tecnologia, meio ambiente, desenvolvimento social e rural, transição energética, cultura, finanças, e inspeção e quarentena.
5. Ambas as partes atribuem importância ao desenvolvimento contínuo de relações econômicas e comerciais bilaterais mais estreitas e estáveis. Enfatizaram sua disposição em expandir e diversificar o comércio e se comprometeram a promover a cooperação em investimentos e comércio em áreas prioritárias, como indústria, infraestrutura, economia digital, mineração sustentável, aviação civil e transição energética, bem como a aumentar o nível de cooperação nas cadeias industriais e de fornecimento bilaterais. Reafirmaram sua determinação em manter o nível do comércio bilateral na atual situação internacional.
VI. Os chefes de Estado dos dois países concordaram que a cooperação entre as duas partes no comércio agrícola, ciência e tecnologia agrícolas e segurança alimentar é dinâmica. Reafirmaram seu compromisso de longo prazo em promover o desenvolvimento das relações bilaterais nesta área crucial e concordaram em promover uma cooperação mais estreita entre as instituições de pesquisa científica e as empresas agrícolas dos dois países, bem como a inovação tecnológica em áreas como biotecnologia e desenvolvimento social.
VII. As duas partes recordaram suas respectivas experiências bem-sucedidas no combate à fome e à pobreza e decidiram aprofundar a cooperação no desenvolvimento social e rural no âmbito bilateral e no âmbito da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, lançada durante a Presidência brasileira do G20 no ano passado.
VIII. As duas partes concordaram em aprofundar a cooperação em inovação tecnológica em áreas como aeroespacial, transição energética, inteligência artificial, semicondutores, bioeconomia e segurança alimentar, e em enfrentar conjuntamente os desafios globais.
IX. Os chefes de Estado dos dois países reafirmaram sua disposição de designar 2026 como o "Ano da Cultura China-Brasil" para fortalecer ainda mais os intercâmbios sociais entre os dois países.
X. O Brasil reafirmou sua adesão ao princípio de uma só China, reconhecendo que há apenas uma China no mundo, que Taiwan é parte inalienável do território chinês e que o Governo da República Popular da China é o único governo legal que representa a China como um todo. O Brasil apoiou os esforços da China para alcançar a reunificação nacional pacífica. A China expressou sua grande apreciação por isso.
XI. As duas partes estavam dispostas a fortalecer os intercâmbios e a aprendizagem mútua entre as civilizações, defender os valores comuns da humanidade para a paz, o desenvolvimento, a equidade, a justiça, a democracia e a liberdade, e fazer contribuições positivas para a promoção da paz, segurança e desenvolvimento sustentável. Para esse fim, o Brasil saudou a Iniciativa de Desenvolvimento Global, a Iniciativa de Segurança Global e a Iniciativa de Civilização Global da China.
XII. As duas partes reafirmaram seu firme compromisso de salvaguardar a ordem internacional com as Nações Unidas no seu núcleo e baseada no direito internacional e nos propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas. Como importantes representantes do Sul Global, a China e o Brasil, através da Comunidade de Futuro Compartilhado China-Brasil para a Humanidade, que visa construir um mundo mais justo e um planeta mais sustentável, podem desempenhar um papel positivo no fortalecimento abrangente do multilateralismo e na salvaguarda da independência e autonomia dos países em desenvolvimento. As duas partes estavam dispostas a fortalecer a solidariedade e a coordenação, promover o desenvolvimento comum e enfrentar conjuntamente os desafios globais.
XIII. As duas partes trabalhariam juntas para salvaguardar o multilateralismo, defender a equidade e a justiça internacionais, opor-se ao unilateralismo, ao protecionismo e às práticas hegemônicas, promover o desenvolvimento da ordem e do sistema internacionais em uma direção mais justa e racional, e avançar na multipolaridade mundial. Os chefes de Estado dos dois países defenderam o estabelecimento de uma ordem internacional mais inclusiva e sustentável e o fortalecimento dos valores de paz, desenvolvimento, equidade e justiça. Ambas as partes concordaram em continuar trabalhando juntas nos quadros de organizações ou mecanismos internacionais, como as Nações Unidas, a Organização Mundial do Comércio (OMC), o G20 e os BRICS, para promover a modernização e a reforma das instituições de governança global, abster-se de interferir nos assuntos internos de outros países, resolver disputas pacificamente, cumprir a Carta das Nações Unidas e respeitar a integridade territorial de todos os países.
14. Ambas as partes apoiam a reforma das Nações Unidas e do seu Conselho de Segurança, a fim de as tornar mais democráticas, representativas, eficazes e eficientes, e de aumentar a representação dos países em desenvolvimento no Conselho de Segurança, de modo a enfrentar adequadamente os atuais desafios globais. A China atribui grande importância à influência e ao papel do Brasil nos assuntos regionais e internacionais, e compreende e apoia a aspiração do Brasil de desempenhar um papel mais importante nas Nações Unidas e no seu Conselho de Segurança.
15. Ambas as partes reafirmam a necessidade de uma reforma abrangente do sistema financeiro internacional, a fim de aumentar a influência e a representação dos países em desenvolvimento nas instituições financeiras internacionais.
16. O ano de 2025 marca o 30.º aniversário da criação da Organização Mundial do Comércio (OMC). Ambas as partes saúdam as importantes contribuições da OMC nos últimos trinta anos para a promoção da integração económica e para o avanço de um comércio aberto, justo, transparente, previsível, inclusivo, equitativo, sustentável e não discriminatório. Estão empenhadas em promover e salvaguardar o sistema comercial multilateral baseado em regras e centrado na OMC. Ambas as partes enfatizam a sua oposição ao unilateralismo e ao protecionismo comercial, bem como o seu compromisso de manter a estabilidade, a segurança e o bom funcionamento das cadeias industriais e de abastecimento globais. Ambas as partes apoiam a reforma da OMC e, enquanto países em desenvolvimento, apoiam o reforço da dimensão de desenvolvimento da OMC, trabalhando em conjunto para salvaguardar os direitos e interesses legítimos dos membros em desenvolvimento. Além disso, ambas as partes sublinham a necessidade de restabelecer prontamente um mecanismo de resolução de litígios plenamente operacional e acessível. Ambas as partes apoiam a inclusão atempada de resultados, como o Acordo sobre a Facilitação do Investimento para o Desenvolvimento, no quadro jurídico da OMC. Por fim, ambas as partes apoiarão conjuntamente a obtenção de resultados pragmáticos na 14.ª Conferência Ministerial da OMC, a realizar-se em março de 2026.
17. Ambas as partes acreditam que não há vencedores em guerras tarifárias ou comerciais e que o protecionismo não deve ser a resposta aos desafios atuais. Ambas as partes estão dispostas a promover conjuntamente um ambiente aberto, inclusivo e não discriminatório para a cooperação internacional, a manter a vitalidade e o impulso do crescimento económico global e a promover uma globalização económica inclusiva e equitativa.
18. Ambas as partes apelam aos países de todo o mundo para que aumentem a sua atenção às questões relacionadas com o desenvolvimento humano, como a redução da pobreza, a educação e a saúde, acelerem a implementação da Agenda 2030 das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável e promovam a realização do desenvolvimento sustentável.
19. Ambas as partes apoiam firmemente a construção de um mundo de paz duradoura e segurança universal, salvaguardam conjuntamente o regime internacional de não-proliferação nuclear, tendo como pilar fundamental o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), e promovem de forma equilibrada os três pilares do desarmamento nuclear, da não-proliferação nuclear e da utilização pacífica da energia nuclear, a fim de defender a autoridade, a eficácia e a universalidade do Tratado.
XX. O Paquistão congratula-se com a Iniciativa Global da China sobre a Governança da Inteligência Artificial e está disposto a trabalhar com a China para implementar conjuntamente a resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre o fortalecimento da cooperação internacional na construção de capacidades de IA e o Plano Inclusivo para a Construção de Capacidades de IA, bem como promover a cooperação prática em áreas como infraestrutura digital de IA, conjuntos de dados, aplicações de código aberto e formação de talentos. Para esse fim, ambas as partes estão dispostas a realizar ações conjuntas no âmbito de quadros bilaterais e multilaterais. Ambas as partes apoiam as Nações Unidas a desempenhar um papel central na governança global da IA, promovendo o desenvolvimento justo, sustentável e inclusivo da IA e reduzindo continuamente as lacunas digitais e de inteligência.
XXI. Ambas as partes estão dispostas a reforçar a coordenação de posições sobre o fortalecimento da governança global do ciberespaço e o combate à desinformação cibernética, e a promover a construção de um ciberespaço aberto, seguro, estável, acessível, pacífico e interligado. Ambas as partes congratulam-se com a adoção da Convenção das Nações Unidas contra o Cibercrime pela Assembleia Geral das Nações Unidas e estão dispostas a promover conjuntamente a sua rápida entrada em vigor e a reforçar a cooperação internacional no combate ao cibercrime.
XXII. A China reitera o seu apoio à Presidência brasileira do BRICS em 2025 e à realização bem-sucedida da 17.ª Cúpula do BRICS. Ambas as partes continuarão a aprofundar a cooperação prática em vários domínios no âmbito do BRICS.
XXIII. A China apoia o Brasil na realização bem-sucedida da 30.ª Conferência das Partes na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP30) em Belém, Brasil, em novembro de 2025. A China confirma que enviará uma delegação de alto nível à conferência. Ambas as partes enfatizam a importância de defender o princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas, promover o desenvolvimento sustentável nos três pilares do ambiente, da sociedade e da economia e alcançar resultados substantivos na conferência, a fim de contribuir para enfrentar as emergências climáticas que têm um impacto desproporcional nos países do Sul Global. Para esse fim, a China agradece ao Brasil pelo convite para participar da Reunião dos Ministros das Finanças da COP30. A China observa que o Brasil apresentou sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) na 29ª Conferência das Partes na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP29). O Brasil saúda o compromisso da China de anunciar sua NDC para 2035, abrangendo toda a economia e todos os gases de efeito estufa. A China saúda a iniciativa do Brasil de lançar o “Fundo Amazônia para Sempre” no âmbito da conferência e aguarda com expectativa o papel positivo dessa iniciativa. Ambas as partes acreditam na importância de fortalecer as trocas e a cooperação, e de promover que os países desenvolvidos cumpram suas responsabilidades, tomando medidas concretas para ajudar a construir um mecanismo internacional dedicado à proteção e à conservação das florestas tropicais.
XXIV. O Brasil apoia a China na realização da Cúpula Mundial sobre as Mulheres em 2025.
XXV. Ambas as partes apoiam a Presidência sul-africana do G20 e a realização bem-sucedida da 20ª Cúpula de Líderes do G20.
26. Os dois chefes de Estado parabenizaram pela realização da Quarta Reunião Ministerial do Fórum China-CELAC em Pequim no mesmo dia, que também marcou o 10º aniversário do início das atividades oficiais do Fórum.
27. Ambas as partes reafirmaram a importância de manter a paz e a estabilidade no Oriente Médio. Eles apoiaram o Plano de Recuperação e Reconstrução Iniciais de Gaza, adotado pela Liga dos Estados Árabes em 4 de março de 2025, e apelaram à comunidade internacional para que promova a implementação contínua e eficaz do acordo de cessar-fogo, a fim de aliviar a crise humanitária na Faixa de Gaza. Ambas as partes expressaram sua vontade de continuar a trabalhar com todas as partes para contribuir para a resolução final do conflito palestino-israelense. Eles reafirmaram seu firme apoio à “solução de dois Estados” e à promoção do estabelecimento de um Estado palestino independente, viável, plenamente soberano, vivendo em paz e segurança ao lado de Israel, com base nas fronteiras de 1967, incluindo a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, com Jerusalém Oriental como capital. Ambas as partes reafirmaram sua firme oposição ao terrorismo e a todas as formas de violência.
28. Ambas as partes lembraram o papel construtivo desempenhado pelos países do Sul Global, incluindo o Brasil, na promoção de uma solução pacífica para a questão nuclear iraniana no passado e no presente. O Brasil saudou a Declaração Conjunta da Reunião China-Rússia-Irã sobre a Questão Nuclear Iraniana, realizada em Pequim, e a proposta de cinco pontos da China. Ambas as partes reafirmaram seu apoio à resolução adequada da questão nuclear iraniana por meios políticos e diplomáticos, garantindo o uso pacífico da energia nuclear e a manutenção da paz e da estabilidade no Oriente Médio.
29. Ambas as partes enfatizaram que esta visita, a segunda visita de Estado do Presidente Lula à China em dois anos, é de grande importância diplomática e marca um novo marco na consolidação contínua dos laços de amizade entre os dois lados.
30. Durante a visita, as duas partes assinaram e chegaram a uma série de documentos de cooperação abrangendo áreas como desenvolvimento sustentável, finanças, economia digital, inspeção e quarentena, bem como intercâmbios culturais e educacionais entre os povos.
31. O Presidente Lula expressou sua sincera gratidão ao Presidente Xi Jinping, bem como ao governo e ao povo chineses, pela calorosa e amigável recepção durante a visita.



