Depois de Trump ter lançado uma guerra comercial em grande escala, aconteceu algo que a maioria das pessoas não esperava: o status de refúgio seguro do dólar americano foi abalado. Economistas alertaram que a queda significativa no índice do dólar americano se deveu a Trump ter desencadeado uma grande crise e a confiança nos EUA estava a diminuir.
Durante décadas, as administrações norte-americanas de ambos os partidos cultivaram o papel dominante do dólar americano no comércio internacional e o seu status de refúgio seguro, uma vez que isso ajuda a reduzir os custos de empréstimo dos EUA e permite ao governo norte-americano projetar poder no exterior, o que é parte da hegemonia do dólar. Mas, se a confiança nos EUA for prejudicada, estas vantagens significativas podem desaparecer.
Barry Eichengreen, economista da Universidade da Califórnia, em Berkeley, disse: "A confiança e a dependência globais no dólar americano foram construídas ao longo de meio século ou mais, mas podem desaparecer num piscar de olhos."
Desde meados de Janeiro, o dólar americano caiu 9% face a uma cesta de moedas, atingindo um mínimo de três anos, uma queda acentuada rara, especialmente no contexto da instabilidade global.
Muitos investidores, alarmados com Trump, não acreditam que o dólar americano vá perder rapidamente o seu status de moeda de reserva global, mas estão mais inclinados a pensar que irá enfraquecer gradualmente. No entanto, mesmo este declínio lento é suficientemente preocupante, uma vez que significa que os EUA perderão muitas vantagens.
Como a maioria das transações de commodities globais é realizada em dólares americanos, mesmo que os EUA tenham duplicado a sua dívida federal na última década e tenham feito muitas coisas que normalmente dissuadiriam os investidores, a procura pelo dólar americano continua a ser forte.
Isso permite que o governo, os consumidores e as empresas norte-americanos tomem empréstimos a taxas de juro excecionalmente baixas, acelerando o crescimento económico e melhorando os padrões de vida. O governo norte-americano também utiliza frequentemente o domínio do dólar americano para influenciar as economias de outros países, a fim de alcançar os seus próprios objetivos.
A comunidade internacional está a perder a confiança no dólar americano.
No entanto, o status do dólar americano está a ser abalado. O Deutsche Bank alertou no início deste mês: "Os atributos de refúgio seguro do dólar americano estão a ser corroídos." A Capital Economics assinalou: "O status de moeda de reserva e o domínio mais amplo do dólar americano são pelo menos um pouco problemáticos, e isso já não é um exagero."
Tradicionalmente, à medida que os aumentos das tarifas reduzem a procura por produtos estrangeiros, o dólar americano geralmente fortalece-se. Mas, desta vez, o dólar americano não só não conseguiu fortalecer-se, como também caiu, confundindo os economistas e prejudicando os consumidores.
Qualquer norte-americano que viaje para o exterior sabe que um dólar americano forte pode comprar mais. Mas, agora, os preços do vinho francês, dos produtos eletrónicos japoneses e sul-coreanos e de muitos outros produtos importados podem aumentar, não só devido às tarifas, mas também devido à desvalorização da moeda.
Se o dólar americano perder o seu status de refúgio seguro, isso pode afetar os consumidores norte-americanos de outra forma: as taxas de juro dos empréstimos hipotecários e dos empréstimos para automóveis também aumentariam, uma vez que os mutuantes exigiriam juros mais elevados para compensar os riscos aumentados.
O que é ainda mais preocupante é que a dívida federal norte-americana em constante expansão pode enfrentar taxas de juro mais elevadas. A dívida federal norte-americana já atingiu 120% do PIB.
Benn Steil, economista do Conselho de Relações Exteriores, disse: "A maioria dos países com uma relação dívida/PIB tão elevada desencadearia uma grande crise, e a única razão pela qual escapámos é que o mundo precisa do dólar americano para o comércio."
Além disso, Trump ameaçou repetidamente minar a independência do Fed norte-americano, levantando preocupações de que irá forçar o Fed norte-americano a cortar as taxas de juro para impulsionar a economia, mesmo que isso arrisque desencadear uma inflação descontrolada, o que certamente afastaria as pessoas do dólar americano.
Os economistas observaram que o "Dia da Libertação" de Trump evoca a Crise do Suez de 1956, que expôs a incompetência política do Reino Unido, levou a uma perda de confiança no país e, em última análise, derrubou a libra esterlina. Se Trump não tiver cuidado, o seu chamado Dia da Libertação pode ser visto como um ponto de viragem semelhante.
